Comunicar é um dom. A linguagem é a ferramenta. o escritor francês Roland Barthes Mergulhou nas profundezas da língua em busca do significado último do verbo, do substantivo, do adjetivo... de todos os tipos de palavras e unidades linguísticas. Mas também estabeleceu a sua visão panlinguística sobre o som do qual nasce a linguagem (entonação ou volume) ou o signo através do qual também fazemos linguagem e, portanto, comunicação.
A questão é fazer um tratado, mas com aquele espírito informativo que nos faz sentir que, como não poderia deixar de ser, a questão da linguagem e da comunicação diz respeito a todos nós. Vamos lembrar disso sobre o presente e a ferramenta com que começou este post... Se você tem as ferramentas e conhece seu valor, a comunicação se torna aquele presente transformado em arma para convencer, persuadir ou transmitir como um eco onde quer que as emoções interpretem o que foi dito ou escrito como música pela razão.
Então Roland Barthes é uma espécie de Filósofo metalinguística que nos leva a uma sabedoria muito particular onde podemos decifrar etimologias e ao mesmo tempo encontrar um apego especial a todas aquelas palavras que surgiram como que por um passe de mágica. Porque antes da palavra não há nada. E assim que o primeiro sussurro despertar poderemos reconverter a realidade em torno de quem nos escuta. Porque nossas palavras transformam uma realidade subjetiva que, em essência, é como nos é contada, em maior medida do que pode ou não ser.
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O sussurro da linguagem: além da palavra e da escrita
A voz interior marca o passo para a vontade. O sussurro interior, como um rumor quase inaudível, está localizado entre nosso interesse em comunicar e nossa capacidade de fazê-lo. Tudo nasce nesse sussurro. Desde aquela que o escritor atende quando está prestes a iniciar um novo capítulo de seu livro até aquela que exterioriza o pior ditador fez barulho, confusão e até medo.
O sussurro denota um ruído limite, um ruído impossível, o ruído daquilo que, por funcionar perfeitamente, não produz ruído; Sussurrar é deixar ouvir a própria evaporação do ruído: o tênue, o confuso, o tremor são recebidos como sinais de cancelamento sonoro. E quanto à língua, ela pode sussurrar? Como palavra, parece que ainda está condenada ao jargão; como a escrita, ao silêncio e à distinção dos signos: em todo o caso, dá sempre demasiado sentido à linguagem para alcançar o prazer que seria típico do seu tema. Mas o impossível não é inconcebível: o sussurro da língua constitui uma utopia.
Que tipo de utopia? A de uma música de significado. A linguagem, sussurrante, confiada ao significante em um movimento inédito, desconhecido por nossos discursos racionais, não abandonaria por isso um horizonte de sentido: o sentido, indiviso, impenetrável, inominável, seria, porém, colocado à distância, como uma miragem... o ponto de fuga do prazer. É a emoção do sentido que questiono ao ouvir o sussurro da linguagem, dessa linguagem que é, para mim, o homem moderno, minha Natureza.
O óbvio e o obtuso: imagens, gestos e vozes
A compreensão subjetiva da linguagem compõe todo um universo de interpretações, mal-entendidos e outras derivas que escapam ao emissor de uma mensagem. Curiosamente e paradoxalmente, essa limitação é também uma riqueza da linguagem a ser tratada, segundo o autor, do ponto de vista de nossas próprias condições circunstanciais ou, digamos, endêmicas daquela leitura nas entrelinhas sobre a qual se pode debater ao ponto do absurdo quando o fechamento ou o sentido obtuso interfere.
Em qualquer tentativa de expressão podemos distinguir três níveis: o nível da comunicação, o do significado, que permanece sempre no nível simbólico, no nível dos signos, e o nível que Roland Barthes chama de significância.
Mas no sentido simbólico, aquele que se mantém ao nível dos signos, distinguem-se duas facetas um tanto contraditórias: a primeira é intencional (não é nem mais nem menos do que o autor quis dizer), como que extraída de um léxico visão geral dos símbolos; é um sentido claro e patente que dispensa qualquer tipo de exegese, é o que está diante dos olhos, o sentido óbvio.
Mas há outro significado, o acrescentado, aquele que vem a ser como uma espécie de suplemento que o intelecto não consegue assimilar, teimoso, esquivo, obstinado, escorregadio. Barthes propõe chamá-lo de sentido obtuso.
Variações na escrita
Na verdade, o título de um artigo que Roland Barthes escreveu em 1973, Variações na escrita, apresenta-se como uma compilação de textos de seu autor que cobrem o fenômeno em questão sob todas as perspectivas: tópicos como gramática e linguística, é claro, mas também autores como Benveniste, Jakobson ou Laporte, estruturam um mosaico teórico em que há também espaço para notas sobre as próprias reflexões de Barthes sobre o assunto ou mesmo comentários tão inusitados quanto o dedicado ao dicionário Hachette.
Na sua perspectiva de semiólogo, Barthes vê a escrita não como um procedimento que utilizamos para imobilizar e fixar a linguagem articulada, sempre de natureza fugidia. Muito pelo contrário, para ele a escrita excede consideravelmente, e, por assim dizer, estatutariamente, não apenas a linguagem oral, mas também a própria linguagem, se a encerrarmos, como querem a maioria dos linguistas, numa pura função de comunicação. A reflexão que se estabelece a partir daqui é, como sempre no caso de Barthes, tão ousada quanto transgressora, pois acaba por transformar seus próprios textos num ato criativo muito além da análise erudita.