Os 3 melhores livros de Manuel Longares

Poucos escritores realistas acabam respeitando esse rótulo. Porque o que se coleta em uma narrativa focada no mais tangível acaba disparando para os pressupostos mais insuspeitados. O truque, a desculpa perfeita para dizer o indizível, o discordante, o anômalo e o contraditório.

Porque certamente há pouco de realismo em qualquer relato do humano. Por mais que tentemos. E você sabe disso bem Manuel longares. Fingindo ser escritores realistas, acabam expressando ilusões, emoções, desejos, ideias marcadas pelo futuro do personagem pensante. UMA totum revolucionário de subjetividades que vão do tato ao psiquismo. A descritividade de um lugar tão recorrente para o autor como Madrid apenas prepara o cenário para essa fantasia, essa ilusão do que é vivido por personagens pelas quais podemos simpatizar precisamente no seu estranhamento do comum.

Mas sim, em última análise, trata-se de realismo. Porque não existem naves espaciais ou personagens fantásticos. Mas é precisamente por isso, porque não são necessários face à extraordinária e mágica coincidência que nos coloca a todos no mundo, com o nosso romance na mão para contar...

Os 3 principais romances recomendados de Manuel Longares

Romantismo

Um título que é uma paradoxal declaração de intenções do autor para um romance que acaba por ser brilhante como composição musical em vários momentos. Porque às vezes o ideal permanece romântico impossível devido às circunstâncias, algo pior do que o amor irrealizável, a vida irrealizável.

No reduto burguês do bairro madrileno de Salamanca, ao longo de três gerações de uma família marcada por um amor inviável, este romance conta-nos alguns anos cruciais da vida espanhola, após a morte do Caudilho e a transformação política que isso acarreta.

Que nada muda ou que tudo vira, é a questão que afeta como ameaça naquele bairro conservador em que a vida é considerada inalterável em seus ritos, costumes e crenças, e onde os abastados descartam qualquer alternativa.

Quase vinte anos depois, Galaxia Gutenberg recupera este romance, que ganhou o Prêmio da Crítica Nacional e que já era considerado uma obra-prima na época. Um romance essencial, ambientado na esteira da melhor narrativa europeia do século XX. Esta edição inclui um texto do autor no qual são reveladas algumas chaves de sua criação.

Romantismo, de Manuel Longares

Pitch absoluto

Um escritor conscientemente escreve sobre literatura quando vê as costuras ao escrever. Na juventude, escrever é um impulso, uma descoberta, uma paixão. Aos poucos, a escrita torna-se um placebo ou um exorcismo diante da dor que se sente ao escrever.

Este é um romance sobre literatura. Sobre escritores e pré-letrados, sobre o editor e o leitor, sobre o estudioso e o discípulo, sobre as musas e os censores, sobre os mudos e os loquazes, sobre a boemia e os manuscritos de memórias. Sobre a grandeza e a miséria de um trabalho cuja recompensa é dedicar-se às palavras.

Acontece em uma época que abrange a parte central do século passado, com sua guerra civil e seu pós-guerra. Trata-se de um poeta de aldeia que vive na capital com triunfo, exílio e loucura. E a narração do incidente é apoiada por versos e prosa de autores clássicos e contemporâneos e por fragmentos de zarzuela, revista musical e copla.

O ouvido absoluto, oitavo romance de Manuel Longares, apresenta um mundo heróico, tolo e cruel. O desenvolvimento da narrativa é muito divertido, com personagens substancialmente peculiares. Eles são os cultivadores do patrimônio literário que herdaram e que vão confiar as bibliotecas aos seus descendentes.

Pitch absoluto

O ingênuo

Um universo narrativo particular apresentado de forma concisa. O futuro de uma saga familiar com vista para o esplendor próximo de outros bairros onde tudo acontece como num universo distante e inatingível, apesar de poder habitá-lo, viajar por ele, quase senti-lo...

O universo da Gran Vía de Madrid tem dois lados: o luminoso, cheio de carros e adornado com cartazes de filmes, e as ruas laterais menos florescentes, onde a vida é activa e agitada, mas sem o esplendor da avenida principal. Neste sector monótono, num portão frio da rua Infantas de Madrid, junto à Gran Vía, vivem os protagonistas deste romance, uma família composta por um casal e dois filhos.

No quadro de três momentos históricos, que funcionam no romance à maneira de três atos teatrais, a ação se desenrola. No primeiro episódio, que se passa no final dos anos XNUMX, o pai de família tem a possibilidade de trabalhar no cinema como roteirista e isso não lhe proporciona os benefícios que sonhou. No segundo ato, por volta dos anos XNUMX, são os filhos desse casamento que iniciam sua decolagem vital, o filho herda do pai a possibilidade de trabalhar em um filme como ator e a filha acompanha os altos e baixos de um professora mais velha que ela e ex-intérprete de teatro clássico por quem se apaixonou.

O terceiro ato ocorre no mês de novembro de 1975, dias antes da morte do Caudillo. Em Madrid desfigurada pelo nevoeiro e assombrada por sucessivos laudos médicos sobre a saúde do ditador, detalhando o inexorável sucata a que está sujeito seu corpo, a família dos porteiros da Rua Infantas realiza extravagantes missões. Essas histórias e esses personagens compartilham uma das qualidades mais nobres e também piores valorizadas do ser humano: a ingenuidade.

O militar Monterde, o padre Expósito, o sibilino Cárdenas, o dogmático Beni, a prostituta Engracia, Trinidad dos gatos ou o aflito estalajadeiro de Baco chegam à vida desarmados de estratégias e sofrem a reação destemperada do seu ambiente. Neste romance perturbador, sentimental e engraçado, onde a ilusão é companheira inseparável do fracasso, seres exaltados por quimeras infundadas recusam a desesperança.

O ingênuo
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