Em meio ao vazio do mundo moderno, as histórias mais intensas sobre os aspectos humanos vêm dos lugares mais insuspeitados, daqueles espaços em que o ser humano sofre de submissão e alienação. Pois só na rebelião necessária, na noção crítica de tudo o que rodeia o autoritarismo ou a violência, pode acabar por despertar o melhor de quem somos, por contraste direto com a fatalidade de um destino sem as artimanhas ou trivialidades do mundo. no umbigo individualista de crescimento.
As brasas da ditadura de Hussein ainda brilham em uma sociedade iraquiana ainda instável, porque certamente os problemas na área se estendem desde a praticamente remota Mesopotâmia. Portanto, este romance do escritor iraquiano exilado na Espanha Muhsin Al-Ramli investiga sensações, em vez de manifestações políticas explícitas sobre um status social de seu país que não está tão longe dos tempos de Hussein até o presente.
O próprio enredo nos remete a uma história apaixonante de amizade, com verdadeiros alicerces, entre Ibrahim, Tarek e Abdulá. A infância dos três compõe um mosaico daquela felicidade inatingível das crianças criadas em tempos de conflito. E esse traço de amizade indissolúvel move a história quando já adultos em um país que ainda está atolado nas mesmas bases nas terras móveis do confronto.
Tarek conseguiu encontrar seu lugar na sociedade iraquiana e de sua posição mais confortável consegue um bom emprego para Ibrahim. Mas o que parecia um bom começo logo termina como um final macabro que leva embora o homem Ibrahim e sua memória indelével para um Tarek que investigará sem parar para descobrir os motivos daquela morte terrível nos jardins do próprio presidente.
Com alguns apontamentos do surrealismo que supostamente enfrentará a pior tragédia, em torno das ideias do terceiro amigo, Abdulá, entramos numa história de extremos, de pólos opostos entre amizade e ódio, entre a fatalidade e a vaga ideia de uma possível superação de qualquer conflito da consciência mais lúcida, para melhor ou para pior.
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