Uma das grandes tendências, e por que não dizer também virtudes, da narrativa atual é aquela fragmentação temporal que o conduz por histórias paralelas. Nós que poderiam compor seu próprio romance independente, mas se misturam para compor uma experiência de leitura dupla.
Mas não se trata apenas de um capricho do autor, no caso de Sofia Segovia. Afinal, mesmo o mais remoto, o mais distante encontra uma proximidade surpreendente, uma proximidade que acaba se tornando o fio condutor do romance transformado em mosaico.
Aniceto Mora é um personagem que move a trama, uma espécie de protagonista das sombras. A sua história pessoal está ligada à paradisíaca ilha de Cozumel, onde, posteriormente, dois casais partilham férias a preço de resort.
O referido protagonista nas sombras, traz de volta as memórias de seu infeliz futuro de seu passado. Repudiado por todos, a começar pelos de sua casa, Aniceto se ocupa traçando um caminho para sua vida, com pouca fortuna, sempre envolvido em um processo de desumanização.
Muito diferentes são as vicissitudes desses dois casamentos com os quais Aniceto divide espaço em vez de tempo. O único infortúnio aparente para esses dois casais é a tempestade que os atinge logo após colocarem os pés na ilha. Entretanto…
E ainda há solidão, cansaço, amor esquecido ..., e Aniceto deixa de ser uma sombra para se tornar uma memória impossível desses novos habitantes ocasionais. Aniceto e os turistas compartilham perda e desespero. Tédio da vida e desânimo devido à estreita margem que sua própria covardia lhes dá.
De certa forma, pode soar como uma história existencial metafísica. E isso é. Mesmo assim, de alguma forma inexplicável, a trama se move levemente. Um compêndio fascinante entre profundidade de ideias e leveza em sua apresentação e desenvolvimento.
Sem dúvida uma leitura interessante deste autor mexicano que já decolou com El murmullo de las abejas.
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