As Perfeições, de Vincenzo Latronico

Entre as tendências mais enervantes do nosso mundo atual, destaca-se a ideia da autorrealização mais plena como um compêndio entre o trabalho, o existencial, o espiritual temperado com a felicidade permanente. Marketing de coisas que alcançam tudo, até a percepção mais profunda da vida. Novas gerações atuais que apontam para um ofício que não é trabalho (o que soa bem), uma exploração de tudo em constante crescimento. Em suma, um ego explodindo em direção a todos os pontos do espaço-tempo para estacionar qualquer outra noção que não carregue o self à frente.

A perfeição do superego de Nietzsche transferido para o mais cotidiano. O resultado é uma trama em espiral rumo ao desastre via decepção, frustração e qualquer outra sensação além do ponto central do buraco negro encantado para devorar tantas almas no mundo de hoje.

Anna e Tom são um jovem casal que trabalha como designer gráfico em casa. Aproveitando a flexibilidade de movimentos que a profissão lhes proporciona, decidem instalar-se num luminoso apartamento em Berlim, a capital cosmopolita por excelência, onde acreditam poder realizar os seus sonhos.

Esses sonhos passam pela vivência sem se prender muito a convenções, reinventando códigos de conduta e explorando novos espaços. Eles gostam de comida apaixonadamente, ficam acordados até tarde, vão a festas ilegais, querem acreditar que são um casal aberto à experimentação sexual, se esforçam para se comprometer com ideais políticos progressistas quando ocorre a crise dos refugiados...

No entanto, o tempo passa, a monotonia começa a se instalar, os amigos voltam para casa e têm filhos, o trabalho criativo torna-se rotineiro e os ideais que pareciam ao alcance são fugidios... Anna e Tom se sentem presos, empenhados em encontrar algo puro e verdadeiro. Mas isso realmente existe?

Vincenzo Latronico escreveu um romance conciso e vibrante que é, ao mesmo tempo que uma aberta homenagem a As Coisas, de Georges Perec, uma precisa e implacável crônica geracional. O retrato da falência dos ideais, das dúvidas e desilusões que surgem quando, à medida que o aniversário avança, os sonhos ficam para trás. Uma parábola sobre as nossas vidas assediadas pelas imagens das redes sociais e sobre a procura de uma autenticidade cada vez mais frágil e rara.

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As perfeições, por Latronico
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