Os 3 melhores livros de John Updike

No meu entendimento, o realismo como uma tendência narrativa atual assume considerável dificuldade. Investigar o tangível e o mundano para identificar aspectos narrativos brilhantes está apenas no nível daqueles criadores que observam o mundo com uma perspectiva entre o crítico e o paralisante. E ainda assim acaba sendo uma espécie de gênero multifocal segundo o autor (o sujo realismo de Bukowski, o realismo social de Delibes, o realismo das maneiras de Perez Galdos, o realismo existencialista de Milan Kundera...) extremamente necessário para que a literatura seja também uma ferramenta de estudo e análise mais detalhada do que jamais alcançou as maiores teorias humanas ou sociais.

John Updike foi um daqueles escritores realistas que embarcou na missão singular do realismo como sustento, enchendo-o de humor, estranhamento, nostalgia, crítica social ou qualquer outra nuance que pudesse servir a sua causa de despojamento do ser humano em termos de suas motivações, decisões e interações.

Em sua manifesta missão de narrar desde o cotidiano, acaba compondo enredos brilhantes em que personagens como Harry Angstrom, também conhecido como coelho e se recuperou ciclicamente ao longo de sua bibliografia, assumem o controle daquele realismo por cujo enfoque podemos ver em seu caso a realidade mais crua dos Estados Unidos.

Mas, além da saga singular, Updike foi um autor prolífico com mais de vinte romances por trás dele. Portanto, com a devida referência ao início de seu grande trabalho em Harry Rabbit Angstrom, também falaremos sobre outros de seus romances ...

Os 3 principais livros recomendados por John Updike

Corra coelho

Com o início da saga Rabbit, o autor embarcou em uma história gratificante em torno de Harry Angstrom que o acompanharia por décadas, publicando novos episódios a cada década, como se o personagem se alimentasse das próprias mudanças vitais do autor.

Sem dúvida um compromisso narrativo para a decifração de uma realidade subjetivamente reajustada ao longo dos anos e que apresenta um Harry Angstrom no controle de suas decisões e de suas circunstâncias que por sua vez servem à causa da visão crítica do ser humano imerso em convenções e padrões.

A saga traria ao autor dois prêmios pulitzer pela segunda e terceira edições. Mas com a perspectiva da obra em sua consideração geral, parece mais relevante destacar o início da saga, o ponto de partida, o momento crítico em que nos é contado como Harry decide abandonar tudo, esposa e filhos incluídos, para se entregar à busca desse marco indecifrável, psicopático para alguns, irresponsável para outros, de uma liberdade próxima da libertinagem.

Quando o coelho é alvejado diretamente pela espingarda da realidade, acaba dando uma corrida com a qual consegue escapar de tudo. É assim que descobrimos o mundo sob o novo imaginário de Harry.

E é assim que caminhamos com um personagem ora grotesco, ora lúcido. Uma personagem que, entre o humor ácido, a irreverência e a procura de "algo", consegue transformar os detalhes da rotina em novas interpretações surpreendentes.

O centauro

Muito de nossa sabedoria atual e praticamente todos os avatares humanos e sociais de nossa sociedade ocidental encontram um reflexo na antiguidade com especial consideração àquelas alegorias que as mitologias grega e romana supõem, com seus deuses, seus semideuses, seus heróis e toda aquela série de impulsos e paixões que movem as tramas dessas obras imperecíveis.

Portanto, John Updike queria acomodar uma dessas antigas lendas gregas ao cenário atual. Um pai pode ser aquele Quíron dotado de experiência, ciência e conhecimento. E, sem dúvida, um Quíron moderno não desejaria nada mais do que ter um filho transformado em Prometeu como um ser a quem transferir toda sua sabedoria para torná-lo um homem ainda melhor, um herói de nossos dias.

A morte que perseguiu Quíron assim que recebeu a flecha de Hércules é algo como a dor da distância entre um pai e seu filho adolescente que não vê mais nenhuma doutrina em seu pai.

Esse tipo de alívio mitológico entre o mentiroso Quíron e o Prometeu prestes a receber a imortalidade como um presente de Quíron adquire um sabor especial com aqueles tons de descida à realidade, para o nosso tempo ...

O centauro

As bruxas de Eastwick

Este romance de John Updick é esquisitice, peculiaridade, tom desconcertante de partida e prova de que, como autor, ele poderia lidar com novos gêneros além de seu realismo tradicional. Muitos de nós ainda nos lembramos do filme dos anos XNUMX que simplesmente abordava a estética muito acima de outros fundamentos narrativos.

Mas vamos lá, o filme também não foi ruim. Pois embora seja verdade que o conhecimento dos dons esotéricos das três mulheres divorciadas está na base da trama, também desfrutamos na novela detalhes que zombam das convenções sociais ou que mergulham nos sentimentos de fracasso daquela figura transcendental que é o casamento.

A arbitragem colocando em prática seus poderes por essas mulheres e a chegada de Darryl Van Horne acabam compondo uma catarse de magia, humor, crítica e sexualidade.

As bruxas de Eastwick
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