Os 3 melhores livros de Fernando Pessoa

Alguns grandes poetas acabaram se transcendendo também como prosaicos, com aquele ponto lírico inegável que embeleza a forma para baixo por meio de imagens e símbolos trazidos daquelas outras musas Calliope e Érato. Refiro-me a verdadeiros gênios de diferentes épocas, criadores como Becker ou o mais próximo Mario Benedetti que, olhando para seus tempos díspares, contribuíram com aquele brilho da jornada mais humana através dos tempos. E entre todos eles também brilha muito Fernando Pessoa.

Não serei eu quem julgará subjetivamente seus dons poéticos, pois não gosto muito dessa expressão artística. Mas sei apreciar as incursões de Pessoa no romance ou no género epistolar, espaços narrativos em que explorou e brincou com aquelas personagens heterónimas que marcaram a sua obra como uma das mais singulares da literatura mundial do século XX.

Enquanto sombra do outro português universal das letras, SaramagoÉ muito longo, a verdade é que a concepção díspar da obra literária os coloca em espaços complementares onde nenhum se sobrepõe para a glória maior das letras portuguesas.

Os 3 livros mais recomendados por Fernando Pessoa

Livro da Inquietação

Talvez a intenção última de Pessoa fosse deliberadamente não terminar este livro. O que começou como uma publicação esporádica onde já começava a brincar entre o heterônimo e seu consequente ortônimo (jogo que pode acabar unificando identidades entre ficção e realidade), aos poucos se materializou em uma obra em seu sentido mais amplo.

Pessoa dedicou-se a esta narrativa durante décadas, transitando entre a realidade e a ficção e repleta de nuances sublimes sobre o pensamento, a arte de escrever, a necessidade de encontrar respostas sem renunciar àquele humor que aborda o existencial a partir da assunção do destino último.

Mais do que um romance, é uma peça, um mosaico da vida do narrador e seu espelho do imaginário a partir do qual ele cria a empatia de personagens que acabam sendo descobertos como a riqueza de um ser humano capaz de se confundir com tudo.

Sem saber se as edições acabaram respeitando integralmente a cronologia do que foi escrito, sua publicação é necessária para todos os que amam a literatura como arte de criar vida e pensamento.

Livro da Inquietação

Cartas de Amor

O gênero epistolar é antes um recurso narrativo para aqueles autores que buscam refletir o vasto espectro da comunicação humana. As idas e vindas das cartas, os silêncios, a espera ...

Tudo acaba compondo uma trama que mais do que nunca atinge a nossa realidade e a polvilha com a magia da escrita como canal tranquilo de diálogo. Uma correspondência onde as palavras saem do poço da alma sob as exigências da ordem da expressão escrita. E nesse equilíbrio, Pessoa é um professor capaz de nos oferecer chaves para a racionalização do amor ou do ódio, ou para a naturalização da razão, dos costumes e da moral.

Livro essencial também para chegar a esse ponto de subjetividade do autor, marcado por uma mente totalmente voltada para a causa da literatura como modo de vida. Às vezes parece que as cartas escritas a Ophelia Queiroz são de um Pessoa ansioso por atualizar a sua amada sobre as suas emoções e experiências.

Outras vezes, parece que o próprio Pessoa se refugia na pele de um heterónimo para se libertar do pesado fardo de ser continuamente Pessoa, o lúcido autor assediado pela sua própria sabedoria e lucidez.

O banqueiro anarquista

No próprio paradoxo deste título, já descobrimos a intenção de desvendar os mecanismos sociais, políticos e econômicos do capitalismo. Mas não é um ensaio social, nem uma dissertação de economia.

As questões são abordadas desde o pessoal, desde a percepção de um mundo entregue ao liberalismo e suas consequências. O liberalismo em si é um eufemismo em que os grandes problemas acabam enterrados sob a pátina e a desculpa da liberdade que dá plena saída às ambições humanas, boas ou más, lícitas ou abomináveis.

Com um humor satírico, Pessoa dá uma boa crítica por vezes presciente e que acaba por fazer deste livro uma valiosa reflexão atual.

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