Os 3 melhores livros de Elena Ferrante

Para muitos é implausível, nos limites extremos, que quem alcança a glória de seu trabalho não queira ser conhecido, posar em tapetes vermelhos, dar entrevistas, ir a galas chiques ... Mas é esse o caso. Elena Ferrante, o pseudônimo que abriga um dos grandes enigmas literários da atualidade.

Para o autor (algumas investigações de pouco crédito colocaram um nome real que acabou sendo descartado), esse encobrimento total serve à causa de uma narrativa sem a menor contemplação ou concessão. Quem assume os comandos de Ferrante goza de um criador sem complexos nem nuances, sem aquela autocensura (mais ou menos arraigada em cada autor) entre a consciência e a noção do impacto do que está escrito.

Já há muitos anos em que Ferrante tem escrito livros. E o mais curioso em seu caso é que aos poucos sua curiosidade foi sendo anulada pelo valor de seus romances. Ainda há quem se pergunte periodicamente Quem é Elena Ferrante? Mas os leitores se acostumaram completamente a não colocar uma cara para quem escreve do outro lado.

É claro que não podemos descartar que por trás desse enigmático procedimento editorial não se esconda algum tipo de estratégia para despertar a curiosidade ... Se assim for, que ninguém se deixe enganar, o importante é que os romances de Ferrante são bons. E uma boa leitura nunca é uma farsa.

E assim a magia que você provavelmente sempre buscou é finalmente produzida Ferrante como pessoa ou o projeto Ferrante. Narrativas íntimas e ao mesmo tempo muito vivas nos colocam diante de retratos hiper-realistas da existência, com um olhar profundo para uma cena do século XX a que o autor parece dever algo, ou em que algo poderia ter se perdido. Histórias quase sempre sobre mulheres, protagonistas de amores, desgostos, paixões, loucuras e lutas.

Os 3 principais livros recomendados por Elena Ferrante

O grande amigo

A saga dos dois amigos, finalmente transformada em tetralogia, faz parte deste romance. A vida em Nápoles entre os anos 40 e 50 apresenta aquele cenário provinciano de uma Itália atomizada em que se situava a capital da Campânia.

A camorra, com suas origens hispânicas atávicas, continua sendo aquele governo alternativo dos bairros, bairros marginais onde encontramos Raffaella Cerullo, ou Lila e Elena Greco, conhecida como Lenù. Conhecemos essas mulheres desde a infância até a maturidade, processo que naquelas partes e naqueles dias exigia uma adaptação sumária para optar por um mínimo de sobrevivência digna.

Para ser sincero, a leitura mais satisfatória desse enredo reside no interesse no mimetismo do leitor com aquele ambiente tenso, com regras em torno dos mais fortes e mais espertos, onde os perigos aparecem até pela mais simples disputa entre vizinhos.

Uma vez que essa penetração no meio ambiente é alcançada, a história envolve uma descida vertiginosa ao inferno em que Lila e Lenù estão nos dando master classes sobre resiliência e autoaperfeiçoamento. Entre as duas mulheres é gerada uma atmosfera que concentra às vezes todos os tipos de emoções e sensações complexas, às vezes extáticas.

Um início de saga que atingiu milhões de leitores e, graças ao uso preciso da linguagem, Ferrante consegue nos contar uma daquelas histórias maravilhosas da mais crua realidade.

O grande amigo

Os dias de abandono

Despedidas, despedidas, as saídas mais intempestivas da cena acontecem quando menos se espera. Isso acontece com Olga um dia ruim. O desgaste do amor pode ser algo muito verdadeiro ou a mais infantil das desculpas. Mario redescobre o conceito de amor e entende que não é mais o que ele tem.

Esse tipo de direito natural entre os membros de uma família é quebrado para Mário, que não encontra sentido nem mesmo na criação dos filhos. E Olga fica ali, como quem fica em casa à procura de uma paz que nunca chega, enquanto os segundos do relógio da cozinha tocam cada vez mais alto, cada vez mais devagar.

A separação significa para Olga uma queda nas profundezas do seu ser, onde os medos foram subjugados pelo hábito, pela rotina e pelo amor quotidiano. E no outono ele não encontra aderência. E quanto mais ele tenta encontrar novas forças, mais o empurram para um fundo sem terra. A loucura chega naquele dia ruim em que absolutamente tudo perde o sentido.

Um enredo em torno do desespero, solidão e loucura. Uma história que nos enfrenta frente a frente no espelho do frio de viver.

Os dias de abandono

frantumaglia

Se alguém pode tirar licença para escrever sobre o mesmo processo criativo de contar uma história, essa pessoa é sem dúvida Elena Ferrante, a escritora sem rosto, totalmente dedicada à divulgação da sua obra sem assumir reconhecimento e sucesso.

É por isso que destaco este livro, sempre recomendado e talvez com algum detalhe revelador sobre a pessoa real por trás do pseudônimo. Um dos livros que todo aspirante a escritor de hoje deve ler é Enquanto eu escrevode Stephen King. O outro pode ser este: Frantumaglia, da polêmica Elena Ferrante.

Polêmico em vários aspectos, primeiro porque se considerou que sob esse pseudônimo só haveria fumaça, e segundo porque se considerou que tal descoberta poderia ter sido uma técnica de marketing ... a dúvida estará sempre lá.

Mas objetivamente, quem quer que seja o autor por trás disso, Elena Ferrante sabe do que está falando quando escreve, e mais ainda se o que ela está falando é justamente o ato de escrever. Como em muitas outras ocasiões, nunca é demais começar com o anedótico para aprofundar um problema.

A anedota deste ensaio que nos contará sobre o processo criativo é sobre a própria palavra frantumaglia. Termo do próprio ambiente familiar do autor que servia para definir sensações estranhas, lembranças mal registradas, déjà vu e algumas outras percepções acumuladas em algum espaço remoto entre a memória e o conhecimento.

Um escritor afetado por esta frantumaglia ganhou muito naquele início rápido na frente da página em branco, essas sensações resultam em ideias abundantes e novas sobre qualquer tópico a ser discutido ou qualquer cenário para descrever ou qualquer metáfora sugestiva para incluir.

E assim, a partir da anedota, nos aproximamos da mesa de Elena Ferrante, onde guarda seus livros, seus esboços de histórias e suas motivações para escrever.

Uma escrivaninha onde tudo nasce ao acaso e acaba submetido a uma ordem que acaba por se opor ao acaso e à inspiração. Porque as cartas, entrevistas e conferências que fazem parte deste livro nasceram aí, naquela mesa sóbria e mágica.

E por meio dessa narrativa quase epistolar chegamos ao nível mais íntimo do escritor, onde se confundem a necessidade de escrever, a criatividade que o move e a disciplina que acaba montando tudo.

frantumaglia
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