No cinema já temos vários exemplos de sublimação da dura realidade para proteger os mais vulneráveis. Billy Elliot ou Life is Beautiful são dois bons exemplos. Ainda tinha que encontrar, na narrativa recente, algum paralelismo dessa intenção emocional do placebo contra a realidade.
Voila. Este romance Vibrato traz essa intenção de cura em face de uma realidade adversa e sombria. Música, amor, paixão ... das poucas coisas que podem salvar o ser humano antes de sucumbir ao medo, ao ódio, à desesperança, às piores que pequenas almas líricas acabam se esforçando muito quando detêm o poder, seu único fim na vida.
Clara é aquela alma capaz de transformar a realidade de dentro para fora. O subjetivo pode embelezar ou aliviar a dor. Somente almas dotadas para essa conversão podem alcançá-la.
Clara estuda violino, excelente paradoxo musical das cordas para compor o tom mudo do mundo em declínio. Fazer música às vezes pode afastá-la da violência, do ódio que tudo move.
É difícil entender que por trás da escrita possa estar oculta uma afinação que move a trama. E, no entanto, é maravilhoso imaginar que eu poderia fazer isso, que uma história sobre alguém que ama música poderia conduzir você nas notas de um enredo vital. Se você se atrever a ler este livro, descobrirá realmente aquela composição impossível entre o literário e o musical.
De espaços escondidos de uma Berlim cinzenta, as notas do violino de Clara às vezes são ouvidas. Composições que falam da alma prestes a se quebrar. As cordas do violino choram como nenhum outro instrumento pode. Clara acaba chorando nos ecos de suas quatro cordas.
Mas o que é claro é que, se há esperança, ela nasce na música, na capacidade superior às palavras, aquelas que não alcançam as melhores vontades quando se trata de empatia ou de diálogo.
Noventa e nove compassos para mergulhar em tantas sensações literárias completas. Sons atemporais que capitulam este romance em torno de Clara e do leitor, ambos imersos na descoberta do que resta quando tudo se perde ...
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