Berta Isla, de Javier Marias

Ilha Berta
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Polêmicas recentes à parte, a verdade é que Javier Marías Ele é um desses diferentes autores, capaz de trazer chicha para qualquer história, dando às cenas do cotidiano peso e profundidade avassaladores, enquanto a trama avança com pés de bailarina.
Talvez seja por isso que a mente de um criador como ele desliza para o politicamente incorreto sem qualquer indício de retificação e beirando o desrespeito (pelo menos é assim que aqueles que aderem ao politicamente correto o vêem). Mas, como diria Michael Ende, "essa é outra história e deve ser contada em outro momento". Já se sabe que as opiniões são como asnos, todo mundo tem um.

Em relação ao conteúdo desta entrada, o livro Ilha Berta apresenta-nos a construção de uma vida em comum, de um projeto de família elevado da juventude à maturidade (aquela fase crítica em que podem surgir dúvidas sobre o que foi feito até agora).

Berta Isla está dormindo com Tomás Nevinsón há muitos anos. Compartilham seu dia a dia, tão particular por seus altos desempenhos como general em suas rotinas de portas internas. A vida em comum destes dois personagens oferece aqueles brilhos tolos dos grandes dias e as sombras dos piores momentos, abunda na ideia da leveza do ser em oposição a ideias como permanência, união, estabilidade e rotina. Apesar das percepções da situação conjugal à parte, o que move esta história principalmente é o papel que Tomás Nevinsón deve assumir desde o exterior de sua casa. Tomás é forçado a situações de difícil encaixe com sua vida pessoal, transformando seu casamento às vezes em um amontoado de ausências e até mesmo desaparecimentos prolongados.

Enquanto isso, a rotina que Tomás e Berta podem mais ou menos compartilhar, porém, vai longe. Sempre surgem gatilhos que parecem buscar a implosão de cada relacionamento. Momentos e descobertas transcendentais ou despertares caprichosos de anseios e desejos de solidão. Berta e Tomás, personagens com pinceladas como os equilibristas que todos nós somos, sentindo-se seguros no cotidiano mas assustados com o passar do tempo que nos sobrevém quando fazemos a introspecção e que nos convida a avançar na corda bamba com um paradoxo e medo tentador.

Berta Isla, uma personagem feminina que me lembra a Cándida (Uma família imperfeita, de Pepa Roma), assume um papel no qual todos podemos nos ver refletidos. Desde a mais tenra juventude até hoje é representado de vez em quando um deserto de tempo, em que quase nada pôde fazer, em que quase nada aconteceu, sendo que os anos passaram e a velhice aparece em tudo o que o rodeia isto.

Um cheiro desagradável de oportunidades perdidas, viagens pessoais nunca empreendidas, habita cada alma que olha pela janela da rotina.

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