3 melhores livros de Chico Buarque

No caso de navio tudo começaria compondo uma música. A literatura sem adornos geralmente chega mais tarde, quando o tempo das canções se completa com uma necessidade comunicativa mais ampla. Pois além da letra capaz de agredir as emoções, o racional fica estacionado, mais prosaico mas igualmente necessário como alimento para o aprendizado e a crítica.

Acontece que Chico Buarque também teve um aspecto sociológico a explorar que acabou explorando desde gêneros díspares como ensaio ou o romance. Porque ficção e realidade são espaços complementares se considerarmos a subjetividade de tudo. E propor um enredo com nuances de intra-história onde descobrir o que acontece mais internamente à evolução da sociedade pode acabar transmitindo mais até do que o mais sensível do ponto de partida do ensaio.

No entanto, a singularidade de Buarque é o compêndio de virtudes de ambos os espaços criativos como a música e a literatura. Porque pode ser narrado em vários momentos, parando no momento que marca o símbolo como o refrão de uma canção, apreciando o gesto ou a anedota. E depois volte ao fio da narrativa com aquela sensação paradoxal de que a própria vida às vezes nos desperta.

Os 3 livros mais recomendados de Chico Buarque

Essas pessoas

Um escritor forçado a encontrar sua história. A sensação do prazo peremptório para poder encontrar aquele personagem extraído da própria vida, capaz de mover ou pelo menos magnetizar com um só detalhe, algumas palavras, gestos que podem se estender da primeira página a um belo final. O exercício da escrita como vã intenção de encontrar a história das histórias. Nada é forçado na literatura e este livro nos ensina que, se a história adequada não pode ser escrita, pelo menos nos permitimos uma contemplação fascinante com seu ponto voyeurístico.

Tendo sido premiado com o prestigioso prêmio CamõÉ pela sua trajetória literária que o consagrado compositor, músico, poeta e romancista Chico Buarque nos convida a espreitar a vida de Manuel Duarte, escritor de novelas históricas que teve o seu momento de glória nos anos noventa e agora, com conta bancária em o vermelho, ele tenta em vão escrever o livro que deve aos seus editores.

Enquanto apreciamos seus passeios peripatéticos pelas elegantes ruas de seu bairro, o Leblon, ou visitando a favela vizinha do Viridal, cruzamos um Rio de Janeiro que, de forma cada vez mais evidente, se curva e sangra sob o açoite da injustiça social e econômica: a músico negro baleado pela polícia, decreto que flexibiliza o uso de armas de fogo, manifestação reprimida com violência ou festas luxuosas da nova casta política inundam os jornais.

Buarque nos oferece, como um quebra-cabeça e a partir de múltiplas vozes e perspectivas, seu romance mais comovente e nos mostra, com seu olhar irônico de sempre, as divagações tragicômicas de um escritor em crise e a memória fragmentada do Brasil enlouquecido de Bolsonaro.

Essas pessoas

Leite derramado

Acamado pelo peso da idade, Eulálio Montenegro d'Assumpção revolve as memórias que guardou na memória. O seu corpo frágil é o testemunho de uma existência centenária de cujos detalhes ele lembra diante da filha Eulália, de oitenta anos, ou de quem o quer ouvir. Os acontecimentos de sua vida e de seus ancestrais acontecem sem ordem cronológica, intercalados por digressões, truques e mentiras brancas, tecendo uma tapeçaria fascinante que condensa mais de dois séculos de história de uma família brasileira.

Herdeiro de uma poderosa linha de heróis - o seu trisavô chegou de Portugal com a corte de D. Pedro IV-, Eulálio viu uma imensa fortuna e o bom nome da família desaparecer. Com louca e juvenil paixão, ele amava sua esposa, a sensual Matilde, cuja perda ele lamentou por oitenta anos. Y ahora, desde su aristocrática perspectiva de la realidad, emerge con voz cautivadora una compleja saga familiar, a la vez liviana y exuberante, vívido reflejo de un Brasil desconocido y alejado de los tópicos que se ha dado a sí mismo para construirse una imagen ante o mundo.

Personagem orgulhoso e altivo, mas profundamente sincero e com uma capacidade redentora de rir de si mesmo, Eulálio exibe um aguçado sentido de humor que, juntamente com a sua particular interpretação das coisas, torna Leite derramado o romance que consolidou Buarque como um dos escritores mais lidos e unanimemente valorizados no panorama da literatura portuguesa contemporânea.

Leite derramado

O irmão alemão

Parece incrível que nestes dias de redes sociais capazes de servir de altifalante para qualquer missão, por menor que pareça, alguém tão conhecido como Chico Buarque não consiga localizar o irmão. A missão é então entregue à sua revisão literária como uma resposta necessária para a alma. E assim acompanhamos o autor numa busca mais metafísica sobre a identidade refletida em quem te acompanha e em quem te deixa ...

Entre os muitos livros que revestem as paredes de sua casa, Ciccio, o alter ego de Chico Buarque, encontra uma carta perturbadora datada de Berlim em 21 de dezembro de 1931. Ao lê-la, descobre que seu pai onipresente e inacessível tinha um filho com uma certa Anne Ernst. Mas só anos depois você sentirá necessidade de saber o que aconteceu com aquele meio-irmão. É então que começa uma busca que o levará para o resto da vida.

Em inúmeras entrevistas, o consagrado compositor, músico, poeta e romancista Chico Buarque falou sobre o "irmão alemão" que nunca conseguiu localizar. A partir da memória biográfica e da história familiar, Chico Buarque reconstrói, entrelaçando realidade e ficção, um romance sobre a busca obsessiva de um irmão desconhecido, a partir da tensão permanente entre o que foi, o que poderia ter sido e a pura fantasia. Por meio da literatura, Chico Buarque se aproxima do irmão ausente e, ao fazê-lo, provavelmente escreveu o romance de sua vida.

O irmão alemão
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